As disfunções sexuais femininas são muito mais comuns do que se imagina, mas ainda envoltas em silêncios, tabus e desinformação — inclusive entre profissionais da saúde. Dor durante o ato sexual, ausência de orgasmo, dificuldade de excitação e redução da libido são apenas algumas manifestações que podem impactar profundamente a qualidade de vida, os relacionamentos e a autoestima de muitas mulheres.
E é justamente nesse cenário que a fisioterapia pélvica tem conquistado um espaço fundamental, oferecendo recursos eficazes, baseados em evidências, para o tratamento de diversas condições que afetam a função sexual.
A Relação Entre Assoalho Pélvico e Função Sexual
O assoalho pélvico é formado por um conjunto de músculos e tecidos que sustentam os órgãos pélvicos, como útero, bexiga e reto. Mas além da função de sustentação e continência, esses músculos também têm participação ativa na resposta sexual feminina — seja na percepção sensorial da região genital, na lubrificação, na capacidade de contração durante o orgasmo ou no relaxamento necessário para o conforto do ato sexual.
Quando há disfunções musculares, neurológicas ou até mesmo alterações na propriocepção, a função sexual também pode ser afetada. E é nesse ponto que a avaliação e intervenção fisioterapêutica se mostram fundamentais.
Disfunções Sexuais Femininas Comuns na Prática Clínica
A fisioterapia tem atuação comprovada nos seguintes quadros:
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Dispareunia (dor durante o ato sexual): Pode estar relacionada à hipertonia do assoalho pélvico, cicatrizes perineais, vaginismo ou alterações posturais.
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Vaginismo: Contração involuntária dos músculos do assoalho pélvico que impede a penetração vaginal.
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Anorgasmia: Dificuldade ou ausência de orgasmo, muitas vezes associada à baixa propriocepção da região pélvica ou ao enfraquecimento muscular.
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Diminuição da libido: Embora multifatorial, alterações hormonais, dor e insegurança corporal podem ser fatores contribuintes.
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Alterações pós-parto: Muitas mulheres relatam piora da resposta sexual após o parto, devido a traumas perineais, dores ou alterações na autoimagem.
Avaliação Fisioterapêutica: Mais do que Palpação
Avaliar a função sexual não é apenas investigar o tônus muscular. É entender o contexto biopsicossocial da paciente, ouvir com empatia, criar vínculo e acolher a queixa sem julgamentos.
A avaliação pode envolver:
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Questionários validados (como o FSFI – Female Sexual Function Index);
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Palpação vaginal e retal com técnica adequada;
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Avaliação postural;
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Análise da mobilidade pélvica e do controle motor;
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Mapeamento sensorial da região.
É essencial respeitar os limites da paciente, utilizar linguagem acessível e obter consentimento a cada etapa do processo.
Abordagens Terapêuticas da Fisioterapia Pélvica
O plano de tratamento deve ser individualizado, considerando aspectos físicos, emocionais e relacionais. Algumas estratégias incluem:
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Técnicas de relaxamento do assoalho pélvico: Para casos de hipertonia e vaginismo, com uso de biofeedback, dilatadores vaginais, eletroestimulação e terapias manuais.
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Exercícios de fortalecimento muscular: Quando a causa está associada à fraqueza dos músculos pélvicos.
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Treinamento proprioceptivo: Para melhorar a consciência corporal e a resposta sensorial durante a atividade sexual.
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Educação sexual e orientação postural: Auxiliando na quebra de mitos, no reconhecimento dos sinais do corpo e na construção da autoconfiança da paciente.
O Poder do Olhar Interdisciplinar
A atuação da fisioterapia é parte de um cuidado integrado. Psicólogos, ginecologistas, terapeutas ocupacionais e outros profissionais da saúde podem compor a equipe de apoio, especialmente em casos onde há traumas prévios, disfunções hormonais ou comorbidades associadas.
O papel do fisioterapeuta, nesse contexto, vai muito além da técnica: envolve escuta ativa, empatia e compromisso com a melhora da qualidade de vida da mulher.
Vamos Concluir?
A fisioterapia pélvica tem um papel legítimo, fundamentado e transformador no tratamento das disfunções sexuais femininas. Quando bem conduzida, pode devolver à paciente o conforto, o prazer e a autonomia sobre seu próprio corpo.
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Revisado por Faça Fisioterapia
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