A chegada de um bebê marca o início de uma nova fase na vida da mulher — uma fase repleta de descobertas, adaptações e, muitas vezes, desafios físicos. O corpo feminino passa por transformações significativas durante a gestação e, especialmente, no pós-parto. Nesse contexto, a fisioterapia pélvica tem um papel essencial na reabilitação funcional, na prevenção de disfunções e na promoção da qualidade de vida da puérpera.
Como fisioterapeutas, precisamos entender que o cuidado no pós-parto vai muito além da estética ou da recuperação abdominal. Trata-se de devolver função, dignidade e confiança ao corpo da mulher. E para isso, é fundamental conhecermos as intervenções que realmente fazem a diferença.
Alterações Pós-Parto: O Que Estamos Tratando?
Durante a gravidez, o aumento da pressão intra-abdominal, o estiramento do períneo e as alterações hormonais promovem mudanças importantes nas estruturas musculares e ligamentares da pelve. No pós-parto, essas alterações podem gerar:
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Incontinência urinária (de esforço ou por urgência)
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Incontinência fecal ou escape de gases
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Prolapso de órgãos pélvicos
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Diástase dos retos abdominais
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Dor perineal ou dispareunia
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Dificuldades de evacuação
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Instabilidade da pelve e lombalgia
Vale destacar que muitas dessas disfunções são normalizadas socialmente, como se fossem parte do “pacote da maternidade”. Cabe a nós, fisioterapeutas, trazer luz a essas questões e oferecer soluções baseadas em evidências.
Avaliação Fisioterapêutica no Pós-Parto
Uma avaliação precisa e respeitosa é o primeiro passo. Isso inclui:
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Entrevista detalhada, com ênfase em sintomas urinários, evacuatórios, sexuais e de dor.
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Avaliação postural e de padrão respiratório.
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Exame funcional do assoalho pélvico, utilizando a palpação bidigital (quando autorizado pela paciente) ou biofeedback.
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Teste de diástase abdominal com mensuração da largura e profundidade.
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Avaliação da função abdominal e lombopélvica em atividades do dia a dia.
Lembre-se: o acolhimento, a empatia e o respeito à vulnerabilidade dessa fase são tão importantes quanto qualquer técnica de avaliação.
Intervenções que Realmente Ajudam
1. Educação Corporal e Orientações de Autocuidado
O simples ato de ensinar à mulher como se levantar da cama de lado, como respirar corretamente durante o esforço, ou como carregar o bebê sem sobrecarregar a pelve já trazem grande impacto funcional.
2. Reeducação Perineal
Exercícios específicos para o assoalho pélvico ajudam a recuperar força, coordenação e consciência muscular. A progressão deve respeitar o tempo de cicatrização e a resposta do tecido, principalmente após partos com episiotomia ou lacerações.
3. Técnicas de Respiração e Reprogramação Abdominal
Muitas mulheres desenvolvem compensações respiratórias e padrão de esforço inadequado. Trabalhar a sincronia entre respiração, abdômen e assoalho pélvico (a famosa “conexão core”) é um diferencial da fisioterapia.
4. Exercícios Hipopressivos (com indicação)
Quando bem indicados e aplicados com técnica, os hipopressivos auxiliam na reorganização da pressão intra-abdominal, promovem melhora postural e ativação reflexa do assoalho pélvico. No entanto, não são recomendados nas primeiras semanas pós-parto ou em casos de hipotonia severa.
5. Tratamento da Diástase Abdominal
Fortalecimento do transverso abdominal e dos estabilizadores lombopélvicos, com exercícios funcionais bem orientados, ajudam a reduzir a diástase e prevenir instabilidades futuras.
6. Terapias Manuais e Liberações Miofasciais
Podem ser utilizadas para melhorar mobilidade de cicatrizes, aliviar tensões miofasciais e melhorar a consciência corporal da região abdominal e perineal.
7. Sexualidade e Reintegração Corporal
A fisioterapia também pode ajudar a mulher a retomar sua vida sexual com mais conforto e segurança. Técnicas de dessensibilização, biofeedback e exercícios específicos podem ajudar em casos de dispareunia.
Quando Começar?
Em geral, a avaliação fisioterapêutica pode ser realizada a partir de 2 a 4 semanas após o parto, se não houver intercorrências médicas. No caso de parto cesáreo ou lacerações graves, o início das intervenções deve respeitar a orientação médica e os tempos de cicatrização tecidual.
Um Convite à Humanização no Atendimento
O pós-parto é um período em que a mulher está voltada ao cuidado com o bebê, e muitas vezes se esquece de si mesma. Nossa função como fisioterapeutas é acolher sem julgamento, ouvir com atenção e oferecer caminhos reais de recuperação. A fisioterapia pélvica não é um luxo — é um cuidado essencial à saúde da mulher.
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Revisado por Faça Fisioterapia
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