A Prevalência de Lombalgia Gestacional
A lombalgia comum é uma dor que não apresenta irradiação importante, a intensidade da dor é variável, desde a sensação de desconforto até a dor lancinante. As lombalgias são ocasionadas por processos inflamatórios, degenerativos, por alterações da mecânica da coluna vertebral (posturas defeituosas, escolioses) malformações e sobrecarga da musculatura lombar ¹.
Durante a gravidez, ocorrem diversas adaptações físicas, necessárias ao perfeito crescimento e desenvolvimento fetal. Todavia, essas alterações em algumas mulheres trazem conseqüências que podem resultar principalmente em dor lombar e limitações em suas atividades diárias.
Grande parte dessas mudanças se evidencia na coluna lombar e cintura pélvica, locais comuns de queixas algicas. A prevalência de tais queixas relatada em diferentes estudos varia de 24 a 90%¹ ².
A etiologia e a patogênese das dores lombo-pelvicas são incertas. Uma das hipóteses é que o útero gravídico em crescimento e a hiperlordose lombar compensatória contribuem para um estresse mecânico na coluna lombar. Adicionalmente a tendência de rotação pélvica aumenta com a acentuação da lordose. A biomecânica alterada associada ao relaxamento das articulações sacro ilíacas, sob a influencia da relaxina pode aumentar ainda mais o estresse mecânico sobre as articulações pélvicas e a coluna lombar, no entanto, como nem todas as gestantes que apresentam queixas tem hiperlordose, parece haver outros fatores relacionados ²
Objetivos
Sabe-se que há um número crescente de gestantes que procuram atendimentos fisioterapêuticos em decorrência de lombalgias gestacional e dores, dessa forma realizou-se uma revisão de literatura para sistematizar estudos que abordem a prevalência de lombalgia gestacional.
Métodos
Para realização deste estudo foi realizada uma revisão de literatura na qual a coleta de dados foi obtida de livros, artigos encontrados em sites e revistas eletrônicas.
Foram incluídos cinco artigos publicados no período de 2005 a 2007. Utilizaram-se três bases eletrônicas para coleta de dados: Lilacs/Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde, Scielo, Fisioweb. Para busca dos artigos utilizados foram utilizados os descritores seguintes: Prevalência, lombalgia gestacional. Adotou-se como critério de inclusão artigos relacionados a lombalgias no pré parto e pós parto. Como critério de exclusão estudo de caso.
Tabela 1 – Características metodológicas dos artigos que abordaram a prevalência de lombalgia gestacional
Autores/ Ano de publicação
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Delineamento do estudo
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População do estudo
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Variáveis analisadas
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Comentários
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Prevalência
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Priscila Fernandes Sant'ana, et al.(2006)
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Transversal descritivo
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40 gestantes
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Multíparas (gestantes entre 23 e 27 anos) prevalência de 27,5%.
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Estudo limitado com amostra pouco significativa
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Pelinson, M.; Brongholi, K.
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Transversal descritivo
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50 gestantes
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Puérperas de parto normal 83,3%, parto cesáreo 84,3%
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Estudo claro e objetivo
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Silvia Reis Vaz de Moura et al.(2007)
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Transversal descritivo / Intervenção base populacional
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14 gestantes
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Gestantes (20 a 31 anos). Grupo tratamento variou de 2,29 (1° mês) e 0,71 (3° mês); Grupo Controle se manteve em 2,43.
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Estudo com numero limitado de gestantes
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Roseny Flavia Martins, João Luiz Pinto e Silva. (2005)
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Descritivo, observacional
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203 gestantes
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Entre as dores relatadas na coluna vertebral e/ou pelve, 80,8% eram referidas por dor na região lombar
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Estudo comparativo, claro e objetivo
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Roseny Flavia Martins, João Luiz Pinto e Silva. (2005)
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Ensaio clínico prospectivo randomizado
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69 gestantes
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A confirmação de dor na região lombar foi positiva em 65% das gestantes.
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Estudo comparativo, claro e objetivo
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Resultados e Discussão
Sant’ana et al. (2006), com uma amostra de 40 gestantes, através de uma amostra por
conveniência sem limite de idade, coletou dados relacionados à idade, ao peso na primeira consulta, ao peso atual, à idade gestacional em semanas, à atividade laboral, ao número de gestações e a queixa de dor lombar prévia, e identificou que 19 (47,50%) gestantes sentiram, no momento da aplicação do questionário, dor fraca; 13 (32,5%), moderada; 6 (15%), forte; nenhuma relatou dor violenta; apenas 2 (5%), insuportável.
Com os resultados obtidos nesse estudo, pode-se identificar que a lombalgia gestacional não tem relação com a idade das gestantes, já que para a seleção das 40 gestantes que participaram do estudo não houve limite de idade.
Pelinson et al. com uma amostra de 50 gestantes, sendo 32 de parto cesárea e 18 de parto normal, verificou que as gestantes submetidas a parto normal 83,3% apresentaram lombalgia durante a gestação, em comparação as gestantes submetidas a parto cesárea com 84,3%.
De acordo com os resultados pode-se observar que o mecanismo do parto normal pode gerar uma dor lombar pela passagem do bebê pelo canal do parto, exacerbando os movimentos de nutação e contra nutação da articulação sacroilíaca. Uma das causas que pode gerar dor no puerpério de cesárea é o fato de intercorrências durante a cirurgia, mas neste trabalho as gestantes não sofreram nenhum tipo de inrercorrência, podendo ser uma possível explicação para a baixa incidência.
Moura et al.(2007), com uma seleção de 14 grávidas com idade média de 22 anos, no quinto mês gestacional, onde a amostra de conveniência foi dividida em grupo controle e grupo tratado com exercício fisioterapêutico para o tratamento da lombalgia gravídica na freqüência de três vezes por semana totalizando 42 sessões e constatou que, de acordo com a pontuação na escala de Mc Gill, a média de dor atual para o grupo tratamento manteve-se inferior e decrescente em relação ao grupo controle. No primeiro mês, o grupo tratamento obteve 2,29 e controle 2,43, no segundo mês o grupo tratamento obteve 1,57 e controle 1,86, no ultimo mês essa diferença foi ainda maior, o grupo tratamento obteve 0,71 e o controle 2,43.
A dor tende a piorar com a evolução da gestação, pois a causa do deslocamento do centro de gravidade se dá pelo aumento do volume abdominal e o crescimento uterino durante os meses de gestação. Em manifestações individuais relatadas por gestantes do grupo tratado, foi relatado que os exercícios foram relaxantes, além de melhorar sua percepção corporal e proporcionar mais confiança nas atividades diárias.
Martins et al. (2005) com uma amostra de 266 grávidas, verificou que 203 pacientes (79,3%) apresentaram dor, após entrevista a grávida identificava a região da dor em seu próprio corpo e identificou que 162 (79,8%) relatavam dor em alguma região da coluna vertebral e/ou pelve. A região lombar foi referida por 130 (80,8%), seguida as sacro ilíaca 79 (49,16%), torácica 58 (36,7%) e cervical 9 (5,6%).
Os números acentuados de dor na região lombar poderiam ser explicados pela tentativa de compensação das curvaturas da coluna vertebral para a manutenção do equilíbrio corporal, já que o centro de gravidade vai s e modificando com o avançar da gestação. A região lombar acentua sua curvatura com o crescimento uterino frontal, que por sua vez, modifica a posição do sacro – que se torna mais horizontalizado – em relação a pelve.
Martins et al. (2005), com uma seleção de 69 grávidas, onde comparou as grávidas que participaram do método de exercício Stretching Global Ativo (SGA), com as grávidas que seguiram as orientações medicas (ORI), e comprovou que para alguns testes de comprovação da dor lombar com palpação da musculatura espinhal. A análise deste estudo permitiu observar que as gestantes que foram acompanhadas durante a gravidez, na assistência pré-natal, e que referiram algias posturais (lombar e pélvica posterior) tiveram benefícios ao realizar os exercícios físicos pelo método SGA, devidamente orientados por profissionais fisioterapeutas.
Conclusão
Um levantamento literário pode-se observar que a lombalgia gestacional apresenta uma alta prevalência independente da idade, peso, número de gestações e tipo de parto das gestantes, pode-se comprovar que as gestantes com lombalgias submetidas a tratamento fisioterapêutico, apresentam um decréscimo significativo nos níveis de dor, justificando assim um dos benefícios da prática de atividades físicas para uma gestação saudável. Portanto a prevenção da lombalgia deve ser iniciada antes da gestação devido a restrições de tratamento para esse tipo de algia gestacional.
Referências
1- Porto, Celmo Celeno: Badim, Abdo, (colab) Semiologia Médica. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, C2001. 1313p.
2- Baracho, Elza. Fisioterapia Aplicada à Obstetrícia, Uroginecologia e Aspectos de Mastologia. 4. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.579p.
3- Priscila Fernandes Sant’ana, Sabrina Souza Mendes, Aline Teixeira Alves, Denise Ribeiro Rebelo da Silva. Caracterização da Dor Lombar em Gestantes Atendidas no Hospital Universitário de Brasília. v.4, n.1/2, p.37-48, 2006.
4- Pelinson, M, Brongholi, K, A Incidência de Dor Lombar em Puérperas de Parto Normal e Cesárea.
5- Silvia Reis Vaz de Moura, Rachel de Silveira Campos, Sílvia Helena Vanzelli Mariani, Arnaldo Augusto Franco de Siqueira, Luiz Carlos de Abreu, Dor Lombar Gestacional: Impacto de um Protocolo de Fisioterapia. Arq Med ABC 32 (Sulp. 2): 559-63.(2007).
6- Roseny Flávia Martins, João Luiz Pinto e Silva, Tratamento da Lombalgia e Dor Pélvica Posterior na Gestação por um Método de Exercício. Ver. Bras.Ginecol. Obstet. v.27 n.5 rio de Janeiro, maio 2005.
7- Roseny Flávia Martins, João Luiz Pinto e Silva, Prevalência de Dores na Costas na Gestação, Ver.Assoc. Med Bras 2005, 51(3): 144-7.
Trabalho realizado por:
Juliana Andrade, Jeniffer Kennedy, Wilson Júnior, Danilo Moncorvo, Rodrigo Correia, Aline Deyna, Moab Eduardo, Reginaldo Júnior, Jeter Gerson, Felipe Martins, Claudio Barbosa.
Contato: gel_1990@hotmail.com
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