Conhecer grupos de risco pode prevenir dor pós-cesariana
A identificação dos fatores de risco no tratamento da Dor Crônica Pós-Cesariana (DCPO) mostrou resultados eficazes em pesquisa realizada na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). "Melhor do que tratar é prevenir. E para a prevenção é importante o conhecimento dos grupos de risco", afirma a anestesista Thais Orrico de Brito Cançado. Em sua tese de doutorado, defendida na FMUSP, ela identifica os fatores de risco: doença crônica em tratamento, maior tempo em trabalho de parto sem analgesia e escores de dor elevados no pós-operatório imediato.
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A pesquisa envolveu 465 pacientes da Associação de Amparo à Maternidade e à Infância (AAMI) de Campo Grande (MS). Elas foram submetidas a uma avaliação pré-anestésica e depois divididas em cinco grupos, que foram tratados com doses e combinações diferentes de medicamentos. Após o parto, as pacientes foram encaminhadas à sala de recuperação pós-anestésica. Durante o pós-operatório recente (até 36 horas após a cirurgia) e o pós-operatório tardio (terceiro e sexto mês após a cirurgia), as pacientes responderam entrevistas para mensurar as dores.
Sobre o tratamento da DCPO, Thaís explica: "Podem ser utilizadas várias medicações como analgésicos, anti-inflamatórios e anti-depressivos, mas muitos trabalhos enfatizam a importância de analgesia multimodal, ou seja, a associação de várias medicações". E foi desta forma que procedeu a pesquisa: combinando anti-inflamatórios e anestésicos.
Os dados obtidos a partir da análise dos grupos concluíram que a anestesia com doses de bupivacaína hiperbárica (anestésico) a 0,5%, superiores a 10mg, associada a 100 mcg (microgramas) de morfina (anestésico) e Anti-Inflamatórios Não Esteroidais, no intra e pós-operatório imediato, reduziram a incidência de dor crônica após três meses do procedimento. Este tipo de cuidado pode melhorar a analgesia pós-operatória, evitando, assim, o aparecimento da dor crônica.
A DPCO
A Dor Crônica Pós-Operatória (DCPO) é aquela que persiste por pelo menos três meses mesmo após o ferimento estar curado, mesmo sem haver outra causa para a dor, como a ocorrência de infecções. Os dados sobre a incidência de DCPO variam bastante devido aos diferentes critérios adotados nas suas definições e também às dificuldades na avaliação e interpretação dos tipos de síndromes dolorosas. Segundo publicações recentes do International Association for the Study of Pain (IASP), a incidência varia entre 20% e 50%, após cirurgias de grande porte (toracotomias, mastectomias, amputações) . Após cesarianas, a incidência varia de 6% a 18%.
Segundo relatório do Ministério da Saúde, dos 2,8 milhões de partos realizados anualmente no Brasil, 52,2% são cesarianas. Isso coloca o País como o líder mundial do ranking de cesarianas. "O número de cesarianas vem crescendo devido, entre outros motivos, às melhores condições de saúde, ao desejo da paciente, por ter medo da dor do parto natural, e pela comodidade do cirurgião, na medida em que ele define o dia e horário da cirurgia", explica Thaís.
Ela conta que a sua motivação pelo tema se deu por ser anestesista e mãe de quatro filhos. "Foram duas cesarianas e dois partos normais", lembra. "Precisava, também, fazer um trabalho que não necessitasse equipamentos sofisticados, pois a coleta dos dados foi feita na cidade de Campo Grande, na qual moro atualmente", conta a pesquisadora. Ela diz ainda que se surpreendeu com a incidência da DCPO, que se manifesta mesmo após cirurgias comuns, como herniorrafias.
Por Otavio Nadaleto
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