Tratamento na incontinência urinária masculina
A incontinência urinária masculina pode ser decorrente da incompetência esfincteriana, da hiper ou hipoatividade detrusora, ou de um processo obstrutivo infra-vesical. Portanto, é necessário o reconhecimento do tipo de incontinência urinária, para que o tratamento a ser instituído seja o mais adequado. A literatura tem apresentado um grande número de publicações que demonstram sucesso no tratamento clínico da incontinência urinária masculina.
Inicialmente é importante descartar a possibilidade de uma incontinência urinária transitória. Neste caso, a ação sobre os fatores desencadeantes, como a obstipação intestinal, a infecção urinária, o uso de medicamentos com ação colateral no trato urinário inferior, é a solução para a incontinência urinária na maioria das vezes.1
Nos pacientes com graus leves de incontinência de esforço, instabilidade detrusora e nos portadores de patologias demenciais, medidas como o esvaziamento vesical freqüente, programado ou estimulado, são de grande utilidade. O seu objetivo é manter o volume e pressão vesicais em valores abaixo do ponto em que ocorre a falha no armazenamento da urina, evitando assim a perda urinária.
Embora não muito difundidas na literatura urológica, a fisioterapia e a cinesioterapia, por meio de exercícios que visam o fortalecimento da musculatura pélvica, tem promovido resultados controversos no tratamento da incontinência urinária de esforço. 2
Outro método, o biofeedback baseia-se na transmissão de conhecimentos, para o paciente, a respeito do processo biológico em questão, no caso a incontinência urinária, objetivando um controle voluntário sobre esse processo, a partir dos sintomas e sinais por ele apresentados. Para tal, podem ser utilizados dados urodinâmicos, bem como outros recursos áudio-visuais. O sucesso obtido com este método chega a atingir em média 40% dos pacientes com incontinência de esforço ou instabilidade detrusora.3
A estimulação elétrica através de dispositivos cutâneos, endo-anais, eletrodos locados no períneo por via percutânea, entre outros, promove um aumento na resistência esfincteriana e redução na contração detrusora (estimulação de ramos do nervo pudendo e nervo pélvico). Os resultados obtidos pelos diversos autores são muitas vezes não reproduzíveis. Em um estudo com 20 pacientes portadores de incontinência urinária pós-prostatectomia, submetidos a esta forma de tratamento, oito obtiveram sucesso.4 Outros autores alcançaram até 80% de melhora em pacientes portadores de incontinência urinária decorrente de instabilidade detrusora.5
Várias drogas são utilizadas no tratamento da incontinência urinária masculina. Cada classe de medicamentos tem aplicação específica sobre determinado tipo de incontinência urinária. Os agonistas alfa-adrenérgicos promovem um aumento na pressão de fechamento uretral através da estimulação de receptores alfa-adrenérgicos localizados em grande quantidade no colo vesical, cápsula e estroma prostáticos. Seu uso pode desencadear efeitos colaterais adversos principalmente do ponto de vista hemodinâmico. A droga mais utilizada é a fenilpropanolamina (Ornatrol ®).
Alguns miorrelaxantes, como a oxibutinina (Retemic®), tem ação direta no detrusor e um efeito anticolinérgico, promovendo uma redução na contratilidade vesical. Tem sua indicação mais específica nos casos de incontinência urinária secundária a instabilidade detrusora. Os anticolinérgicos puros também são muito utilizados neste tipo de incontinência urinária, sendo o brometo de propantelina o maior representante desta classe de medicamentos.
Se a incontinência urinária é conseqüência de um mau esvaziamento vesical, decorrente de um processo obstrutivo infravesical funcional, podemos utilizar drogas bloqueadoras alfa-adrenérgicas, como a doxazosina, a alfuzosina e a terazosina, as quais promovem um relaxamento na musculatura lisa esfincteriana, facilitando a drenagem urinária. Nos casos em que esse esvaziamento vesical deficitário é fruto de uma hipocontratilidade detrusora a instituição do cateterismo vesical intermitente faz-se necessária.
Quando as medidas acima citadas não são suficientes e o paciente não apresenta condições de tratamento cirúrgico ou na eventual falha deste último, só nos resta lançar mão de dispositivos coletores ou absorventes de urina, apesar dos transtornos ocasionados por estes.
BIBLIOGRAFIA
- FRIED, G. W.; GETZ, G.; POTTS-NULTY, S.; CIOSCHI, H. M.; STAAS JR, W. E. - A behavioral approach to the treatment of urinary incontinence in a disable population. Arch. Phys. Med. Rehabil 1995, 76(12): 1120-1124
- HARRISON, S. C. W.; ABRAMS, P. - Postprostatectomy incontinence. In: MUNDY, A. R.; STEPHENSON, T. P.; WEIN, A. J., ed - Urodynamics principles, practice and application, 2nd edition, Churchill Livingstone, 1994. p. 257-262.
- STEIN, M.; DISCIPPIO, W.; DAVIA, M.; TAUB, H. - Biofeedback for the treatment of stress and urge incontinence. J. Urol 1995, 153 (3 pt 1): 641-643
- TANAGHO, E. A.; SCHMIDT, R. A. - Electrical stimulation in the clinical management of the neurogenic bladder. J. Urol 1988, 140: 1331
- ISHIGOOKA, M.; HASHIMOTO, T.; SASAGAWA, I.; NAKADA, T.; HANDA, Y. - Electrical pelvic floor stimulation by percutaneous implantable electrode. Br. J. Urol 1994, 74(2): 191-194
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